Sororidade

Como facilitar o acesso a produtos de higiene da saúde feminina?

6 Aug, 2021
4 min. de leitura
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A questão social de acesso a produtos de higiene feminina precisa ser um assunto em pauta, o acesso a produtos como absorventes, e outros produtos de auxílio ao ciclo menstrual precisa ser facilitado. Vamos falar sobre? 

Pode ser algo tão natural e fácil para a gente, mas ainda existem muitas meninas e mulheres que não têm acesso a esses itens básicos da nossa higiene

 

Imagina que, num belo dia, você acorda e, ao ir ao banheiro, percebe que ficou menstruada. Rapidamente, toma um banho, troca de calcinha (se foi o caso) e coloca o absorvente adequado para o seu fluxo. Vida que segue, né?

Mas imagina que, nesse momento que percebeu que ficou menstruada, você não consegue tomar banho porque não tem água encanada ou um sistema de esgoto na casa onde mora. Ou você não tem privacidade para essa higiene. Ou então sua família não tem recursos para comprar absorventes - e você precisa improvisar com outros materiais para conter o fluxo. Ou ainda sua família acredita que, durante seu período menstrual, você não pode conviver com pessoas que não estejam menstruadas também e te isolam dentro de casa, ou até mesmo em outro lugar, tipo a casinha dos fundos.

Pensou nesses cenários? Pois saiba que essa é a realidade de 10% das meninas que menstruam no mundo - e no Brasil, a estimativa é de mais ou menos 25%, e que essas jovens perdem mais de 30 dias de aulas no ano por não ter como cuidar da higiene durante a menstruação no ambiente escolar. #puxado

Essa é a definição de pobreza menstrual, quando as meninas ou mulheres não têm recursos, estrutura ou mesmo conhecimento para cuidar de si durante a menstruação. Esse, aliás, está dentro de um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU para 2030: no ODS 3, ligado à saúde, a meta é garantir o acesso à água, saneamento e higiene para que nenhuma mulher ou menina seja prejudicada ou afastada da sua rotina por algo tão natural quanto a menstruação. 

Sabe quando você pensa duas vezes antes de ir para a academia ou numa festa quando está menstruada porque acha que vai ser ruim ir a um banheiro que não é o seu ou ter que levar absorventes extras na bolsa de festa (que geralmente é pequena)? Então, agora pensa que isso acontece com coisas tão simples quanto ir à escola ou trabalhar. Meninas ou mulheres nessa situação muitas vezes deixam de ir à escola ou faltam ao trabalho porque não têm dinheiro para comprar absorventes e outros produtos básicos de higiene íntima ou não têm água e sabonete à disposição para fazer essa higiene. Em situações extremas, essas meninas ou mulheres usam toalhas de pano, papel higiênico, papelão e até miolo de pão para conter o fluxo - o que pode causar sérios problemas de saúde pelas infecções vaginais e, em último caso, levar à morte. 

 

desenho de uma torneira com uma mão lavada

 

O documentário da Netflix “Absorvendo o Tabu”, de 2018, mostrou essa realidade em um vilarejo rural da Índia e como as mulheres sofrem com a falta de estrutura, produtos e até com doenças por causa da pobreza menstrual. As toalhas, usadas pelas nossas avós antes da invenção e popularização dos absorventes descartáveis, precisam ser lavadas com água e sabão e secar ao sol para evitar a umidade e a proliferação de bactérias - mas como fazer isso corretamente se não se tem acesso à água ou aos produtos básicos para a higiene das toalhas? Daí, ao invés de ficarem mais limpas, essas toalhas acumulam bactérias, que acham a região da nossa vagina o lugar perfeito para se reproduzirem, e temos aí infecções e outras doenças. 

Por isso a pobreza menstrual deve ser considerada uma questão de saúde pública e fazer parte de políticas como a distribuição gratuita de absorventes e outros produtos de higiene íntima em escolas e postos de saúde, a diminuição dos impostos desse tipo de produto para facilitar o acesso a eles por todas as camadas da população, a ampliação do acesso ao saneamento básico - seja em casa, seja nas escolas. 

Segundo a Unicef, fundo das Nações Unidas para a infância, essa higiene íntima é um direito básico das mulheres e meninas, e privá-las dessa necessidade, é tirar parte de sua dignidade. E daí vem a importância de tratar o tema como política de saúde pública. A insegurança alimentar (quando não há renda suficiente para garantir a alimentação básica) também contribui para a pobreza menstrual, já que entre comprar absorventes e comida, as famílias de baixa renda optam pelo segundo item. E a pandemia do novo coronavírus ampliou o número de famílias com queda ou perda de renda, e por consequência, mais dificuldade de garantir os produtos de higiene para as meninas.

E por que isso é importante? A questão da pobreza menstrual não afeta apenas a saúde de mulheres e meninas em situação de vulnerabilidade, mas também acentua as desigualdades de gênero. Lembra que as meninas chegam a perder mais de um mês de aulas a cada ano letivo pela falta de condições de frequentarem a escola durante o período menstrual? E se não são todas as meninas que passam por essas situações, rola uma diferença nas oportunidades de aprendizagem. Já deu pra perceber, né?

Como você pode contribuir? Primeiro, pode contribuir com o trabalho de ONGs e outros projetos que entregam esses produtos para mulheres e meninas que precisem, seja se voluntariando para angariar fundos ou distribuir os produtos, seja doando para a causa. Aqui no Brasil, várias iniciativas surgiram após o documentário da Netflix, que ganhou o Oscar na categoria ‘documentário curta-metragem’, e numa busca rápida você consegue encontrar projetos que abraçaram a causa do ODS 3 de eliminar a pobreza menstrual e os problemas em decorrência dela. A Plan International é uma organização global apoiada pela Intimus e que trabalha para capacitar e empoderar crianças, adolescentes e comunidades para transformar suas realidades - eles aceitam doações de vários tipos para executar uma série de projetos, incluindo de educação de higiene menstrual.

Além disso, coletivos de jovens como o Girls Up Brasil, o braço brasileiro da iniciativa que surgiu na Organização das Nações Unidas (ONU), trabalha para que leis que tornem obrigatória a distribuição de absorventes descartáveis, sabonetes e até mesmo papel higiênico sejam uma realidade em todas as cidades do país - atualmente, só São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal e Mato Grosso possuem leis que destinam verbas para a compra e distribuição gratuita de absorventes na rede estadual de ensino. 

Não adianta nada falarmos em sororidade e empoderamento, ou batalharmos tanto pela equidade do feminismo se não trabalharmos, também, para eliminar a desigualdade entre nós mulheres, certo? Então bora lá! ;)

 

A Kimberly-Clark Brasil não oferece garantias ou representações quanto à integridade ou precisão das informações. Estas informações devem ser usadas apenas como um guia e não devem ser consideradas como um substituto para aconselhamento médico profissional ou de outro profissional de saúde.